De actividade de lazer a disciplina das Ciências Sociais e indústria de enorme potencial, o Turismo tem vindo a fazer um longo percurso desde o século XIX, situando-se hoje em posição destacada no conjunto das actividades humanas com grande peso político, cultural, social e económico. Turismo, as suas origens, os debates em torno, e a sua importância no contexto global é o tema deste artigo.
Filipe Correia de Sá
“Actividade humana internacional que serve como meio de comunicação e como elo de interacção entre povos, tanto dentro como fora de um país. Envolve o deslocamento temporário de pessoas para outras regiões ou países visando a satisfação de outras necessidades que não as actividades remuneradas” – esta é uma das várias definições de turismo que podemos encontrar mas não é considerada a mais adequada.
Sendo hoje uma disciplina na área das Ciências sociais, o turismo tem sido objecto de debate, provavelmente mais intenso do que se supõe, com vista à fixação de um definição que satisfiça a todos e que obedeça a um critério exigido para que uma ciência possa existir como tal. Segundo o Professor brasileiro Elbio Troccolcoli Pakman, da Universidade Federal da Paraíba, uma ciência “precisa de um objecto bem delimitado. A definição do objecto é parte constitutiva e deve preceder a teorização científica, que se vê limitada na ausência daquele.” No fundo, defende este académico, trata-se de responder à pergunta fundamental: “O que é o Turismo?” Afirmar que o mesmo pode ser abordado de diversos pontos de vista, com diferentes interesses e metodologias, não resolve o ponto crucial de esclarecer o que ele é, defende Elbio Pakman, acrescentando que “a confusão conceitual da área do turismo é grande e parece distante o momento em que disporá de conceitos básicos, consensuais e de ampla aceitação”. Considerando que este é um problema essencial para os pesquisadores que se debatem com uma dificuldade inicial: esclarecer, para si e para os leitores, o conceito de turismo, a verdade é que a actividade do turismo, o sector do turismo, o turismo como fenómeno social global, tem-se desenvolvido, independemtenete das definições que se lhe queiram atribuir. O mesmo é dizer que os diversos intervenientes na administração, observação e pesquisa, etc, deste fenómeno, não podem deixar de procurar soluções para ir ao encontro do que é inegável: a dimensão do turismo e a sua importância, social, cultural, política e económica.
Um pouco de história
Mas olhemos ainda para o percurso histórico das definições do turismo.A definição com que abrimos este texto é a menos rigorosa e satisfatória, mas mesmo assim faz parte do processo de identificação e definição.
Em 1937/ 38 a Liga das Nações (que precedeu a ONU) definia turista internacional nestes termos : “pessoa que viaja, por um período de 24 horas ou mais, para um país diferente daquele da sua residência habitual”.
Elbio Pakman aponta nesta definição o facto de “delimitar o turista enquanto pessoa e não o turismo em si, além de não abranger o turismo doméstico/interno (e sim apenas o turismo internacional) e a inserir as 24 horas como limite inferior, sem estipular limite máximo e sem reconhecer os turistas do mesmo dia. Esta curta e precisa formulação passou a constituir , por várias décadas, o eixo basilar das definições institucionais do turismo”, conclui o professor Pakman.
Embora tenha havido ligeiras alterações a esta definição, é, em 1963, na Conferência das Nações Unidas sobre o Turismo e as Viagens Internacionais, que a UIOOT (União Internacional das Organizações Internacionais de Turismo – percursora da OMT) sugere uma nova definição, com o conceito do lado da demanda: “O turismo compreende as actividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadias em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, tendo em vista lazer, negócios e outros motivos ”.
A Organização Mundial do Turismo, fundada em 1970, e que veio substitutir a UIOOT sugere uma nova definição em 1999: “O turismo compreende as actividades realizadas pelas pessoas durante as suas viagens e estadias em lugares diferentes do entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, tendo em vista lazer, negócios e outros motivos não relacionados ao exercício de uma actividade remunarada no lugar visitado”. Segundo o já citado professor Pakman esta definição “encerra a longa caminhada do entendimento internacional do turismo e da sua ‘definição oficial’ no seculo XX, e também marca o fim de uma era. As exigências práticas por melhores estatísticas e as possibilidades reais de finalmente passar a um novo sistema de estatísticas, vão irromper com a toda a força no século seguinte”, anuncia Pakman.
Tanto a definição com que inciamos este texto (a qual não se enquadra nos conceitos académicos) como todas as outras até à mais recente da OMT identificam aspectos fundamentiais da actividadee turística que responde aos vários sectores, interesses e actividades que se referem a temas tão importantes como os transportes, a cultura, a economia, entre outros.
Daí aceitar-se que o negócio é apenas uma parte do fenómeno turístico e analisá-lo somente a partir da sua dimensão económica pode levar ao esquecimento da sua dimensao antropológica, além de fazer com que se pense nos turistas apenas como portadores de dinheiro.
O turismo não deve ser encarado apenas como uma actividade exclusivamente económica, mas também deve ser considerada a sua importância social e cultural na sociedade.
A importância do turismo para o crescimento
Em face dos elementos recolhidos ao longo dos anos, por todos quantos se debruçaram sobre o que representa este fenónomeno social de movimentação humana, entre povos e países, nações e continentes e os valores que acarreta, não supreende que o turismo, uma indústria por direito próprio, tenha voltado a ser identificado como um impulsionador chave da recuperação económica e crescimento num novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com os dados da Organização Mundial do Turismo das Nações UNIDAS (UNWTO) a apontarem para um regresso a 95% por cento do números de turistas antes da pandemia até ao final de 2023 no melhor cenário, o relatório do FMI sublinha o impacto positivo da recuperação rápida do sector em algumas economias em todo o mundo.
Segundo o Relatório, a economia global crescerá uns estimados 3% em 2023 e 2,9% em 2024. Embora isto seja mais elevado do que as previsões anteriores, no entanto, está abaixo da taxa de crescimento de 3,5% registada em 2022, apontando para a continuação dos impactos da pandemia e da invasão da Ucrânia pela Rússia, e da crise do custo de vida.
O relatório sobre a situação económica mundial analisa o crescimento económico em todas as regiões do globo, relacionando o desempenho com sectores chave, incluindo o turismo. Notavelmente, estas economias com “grandes sectores de viagens e turismo” mostram forte resiliência e níveis robustos de actividade económica. Mais especificamente, países onde o turismo representa um percentagem elevada do PIB registaram recuperação mais rápida dos impactos da pandemia em comparação às economias onde o turismo não é um factor significativo.
De notar o que diz a Introdução do Relatório: “Forte procura de serviços apoiou as economias orientadas para o serviço – incluindo destinos turísticos importantes tais como a França e a Espanha”.
Olhando em frente
A última previsão do FMI surge na esteira das análises mais recentes das perspectivas para o turismo, aos níveis regional e global. De acordo com o Barómetro do Turismo Mundial publicado em Novembro de 2023, o turismo internacional está a caminho de atingir 80 a 90 por cento dos níveis pré-pandémicos em 2023. Perspectivas para Setembro/ Dezembro de 2023 apontavam para uma recuperação contínua, impulsionada pela ainda relutante procura e aumento das ligações aéreas particularmente na Ásia e no Pacífico inde a recuperação ainda é moderada.
A leitura da Revista Turismo Mundial de Fevereiro de 1986, embora referindo dados de 1985, permitie identificar alguns factores fundamentais para o desenvolvimento do turismo, em África, nomeadamente.
Nesse ano de 1985 as estatíscas indicavam um aumento das actividade turística por nacionais e estrangeiros nos estabelecimentos de acolhimentos (hotéis e similares) na maior parte dos países e uma estabilidade das visitas aos pais e amigos. A revista enumera um conjunto de factores que favoreceram o desenvolvimento do turismo nacional nesse ano de 1985, factores esses que continuam a ser importantes nos dias de hoje. Entre eles destacam-se: a) uma política mais activda de numerosos países africanos no que se refere ao desenvolvimento das viagens e do turismo no plano nacional; b) a melhoria dos meios de comunicação entre as diferentes regiões no interior do país; c) a construção de meios de acolhimento melhor adaptados às necessidades dos nacionais; d) a redução das tarifas dos hotéis para os nacionais.
Por outro lado, há que ter em conta os factores negativos, considerados tendo em conta também dados referentes a 1985, sendo de notar como continuam a ser relevantes nos dias de hoje. São factores que limitam consideravelemente as possibilidades de acesso dos residentes dos países africanos às viagens e férias: a) baixo nível dos salários; b) os preços dos serviços turísticos que continuam proibitivos para grandes camadas da população dos países do continente; e c) insuficiência e inadequação dos meios de transporte e de infraestruturas.
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