“As pessoas estão a ver como é que Angola está pronta agora”
Faltam alguns dias para o ano de 2024, período em que o Conselho Empresarial Angola-Nigéria deverá realizar um road show. O que vai acontecer de facto?
Na verdade, só Deus é que sabe de certeza absoluta o que vai acontecer. Mas nós temos planos.
São os homens que fazem estes planos. E quais são?
O nosso plano vai ser mostrar o que Angola e a Nigéria têm para oferecer. Mas não se esqueça: não é só sobre o road show. O road show é importante. Tivemos um fórum na Nigéria onde começou o Conselho. Por isso, o Conselho é mais conhecido na Nigéria e está a ser conhecido aqui em Angola. Vamos continuar depois dos fóruns. Todos os anos teremos um road show. O próximo ano queremos ter o road show na Nigéria e, possivelmente, em 2024 aqui. Já fiz o programa de trabalho, mas todos os anos teremos um fórum. O Conselho terá duas reuniões principais todos os anos para ver onde tivemos sucessos, desafios e como avançar. Uma reunião na Nigéria e uma em Angola. Mas se quer saber o que vai acontecer de facto, o que posso dizer agora é que há muito interesse. E os empresários dos dois lados estão muito contentes. É esta alegria e vontade de trabalhar que me fez vir até aqui. Conhecimento é poder.
Disse há pouco que os empresários na Nigéria diziam que os angolanos não gostam deles. Como é que estão as relações e o que é que tem emperrado a relação entre os empresários africanos, quando vimos muitos empresários europeus a chegarem a África e serem bem-sucedidos?
nesta área de fraqueza da Nigéria, então juntos farão a diferença. Eu acredito que a união faz a força e traz o progresso. Na união há crescimento, na unidade há desenvolvimento. Juntos podemos mandar sinais à comunidade internacional de dois países africanos que estão a juntar as suas forças para recebermos de volta o nosso continente. O continente pertence-nos. Nós devemos ser mestres do nosso próprio destino. E quando formos mestres do nosso próprio destino, vamos ter de volta o nosso continente. Este período está a ser chamado de novo começo da África. Então porque não mudamos todos para continuarmos? Outras nacionalidades vêm, levam os nossos recursos naturais, melhoram o país e o continente deles. E África continua a ser terceiro mundo. Temos o poder humano, a nossa população é jovem. Temos recursos naturais, culturais, o tempo chegou agora e nós devemos trabalhar com aquilo que nós temos para criar uma estratégia que vai levantar pequenas e médias empresas. Essa é a única maneira com que vamos criar trabalho e emprego para os nossos jovens, gerar dinheiro e, talvez um dia, erradicar a pobreza de que tanto se fala.
Lidera o Conselho Empresarial Angola-Nigéria. Qual é a impressão que se tem na Nigéria sobre Angola e quais são as áreas em que os empresários nigerianos manifestam interesse em investir em solo angolano?
O que mais ouvi do meu lado — Nigéria — é petróleo e gás. É o sector onde encontro mais investidores. Outro sector que ouvi é a tecnologia, muita tecnologia, e os empresários nigerianos a virem para aqui, mas o Conselho tem o seu próprio plano, com o qual sabe que haverá mais impacto.
Quais são os planos?
Temos um conceito em sacrificarmos tudo no altar do petróleo e gás, e acredito que Angola e a Nigéria sacrificaram tudo por causa do petróleo e do gás. Na minha opinião, nós os africanos conseguimos resolver a situação da comida e da agricultura africana, e até do mundo. Sessenta por cento da área cultivável do mundo está em África. Temos área arável, a população mais jovem no mundo está em África. Temos que organizar e olhar para a agricultura de forma organizada com máquinas. Desta forma organizaremos e criaremos várias empresas agrícolas, processamento de alimentos. Nós podemos dar-nos de comer e dar ao mundo. Temos biliões para dar de comer ao mundo. Agora temos doutores, mas eles estão a ir embora para ir buscar uma melhor vida. Acredito que África tem, e todos os nossos cérebros querem ir viver fora. Ghana, Nigéria, Angola, todos os cérebros querem ir para fora à busca de melhores condições de vida. E a única forma de ter sucesso é levares o que tens para poderes fazer o que tens a fazer. Tens que saber os teus pontos fortes e fracos para poderes trabalhar com os teus fortes. Uma das coisas, que é a nossa riqueza, são os jovens. Eles estão a ir embora à procura de melhores condições de vida. É parte da nossa riqueza. Também estamos à procura de minas porque temos os recursos naturais. E agora estão a vir para aqui a levar tudo por praticamente nada. Porque é que não pertence a africanos? Este é o problema.
Há neste momento um processo de privatização de vários activos a nível da economia angolana. Estarão os empresários nigerianos interessados em adquirir alguns destes activos ou vêm apenas para investir em áreas já predefinidas?
Vamos ver isso de certeza absoluta. Se tivermos um ambiente propício de negócios, se as condições forem justas, claro que iremos comprar. De certeza, hoje teremos uma reunião com o sector da privatização, porque vim nesta viagem para descobrir factos. E daqui a três meses vou trazer uma delegação com grandes líderes financeiros da Nigéria. O padrinho do Conselho Empresarial é o ex-Presidente da Nigéria, Olosengu Obasanjo. A última vez que esteve aqui já se encontrou com o Presidente para falar do Conselho e dos planos que nós temos.
Vão trazer também o empresário Aliko Dangote?
Dangote já não é o maior milionário. Ele tem muita publicidade e é o mais conhecido. Tem pessoas maiores que ele, como o senhor Bua e outros, mas só que ele é que tem maior publicidade. Tem o Mike Adenuga, não faz publicidade e não gosta de falar. Mas ele tem mais a nível global. Muitos são calados e conservadores. Mesmo que Dangote não estiver, garanto que vêm pessoas como ele ou maior do que ele.
Falou há pouco do ambiente de negócios, como é que o encara hoje em Angola?
Por exemplo, estivemos no novo aeroporto. Tento ser mais objectiva possível: eu acredito que o Governo angolano sabe que é importante ter infra-estruturas. Tem electricidade. Infelizmente é algo que a Nigéria não pode dizer. Qualquer indústria preocupa-se com o nível de energia. Estou a usar o aeroporto como exemplo. Já tens infra-estruturas. A infra-estrutura à volta do aeroporto também já está alinhada. Vê-se que já têm uma visão do futuro e tudo o que se precisa é de pessoas que venham para fazer-se realidade. Então, eu acredito que a única coisa que falta é sentar-se e criar uma estratégia de visão de líderes. Não vejo como isso pode não funcionar.
O acesso a Angola para os empresários nigerianos está mais facilitado? Muito mais. Vim para Angola a primeira vez há cinco anos. Foi uma experiência completamente diferente. Eu já era a líder de uma delegação de investidores. Não de investidores africanos, mas, sim, de investidores internacionais. Quando cheguei ao aeroporto, eles entraram e eu fui pedida para esperar. Eu perguntei: porque Neste momento, nada nos está a parar de vir. Eles julgavam pelo que acontecia no passado. Falaste de Dangote. Ele não quer voltar para Angola porque teve uma má experiência. Ficou no aeroporto preso. Mas as pessoas estão a ver como é que Angola está pronta agora. Quando tivemos esse fórum na Nigéria, os nigerianos viram a quantidade de angolanos que estiveram neste fórum interactivo, inclusive a Câmara de Comércio Angola e Nigéria participou. Nós publicitamos isso. Tivemos ministros e entidades de agências aqui em Angola. O que dissemos é que, se eles não estivessem prontos para nós, eles não teriam vindo. Eles vieram convidar-nos para irmos ao país deles. Então as pessoas estão a pensar e a mudar. E isso é parte do meu trabalho como presidente do Conselho. É convencê-los de que não é o que acontecia antigamente.
Há uma semana em Angola, já pode fazer um balanço em relação a esta passagem ao nosso país?
Como disse no princípio, agora as pessoas estão mais liberais do que pensava. Mais calorosas do que pensava. Uma das coisas que vejo e acho que é muito bonito de se ver é que os angolanos são muito civilizados. Em termos de infra-estruturas, fui para algumas outras cidades que cresceram, como o Sequele e Kilamba. Uma das primeiras coisas que um ser humano precisa é casa. E por aquilo que vi aqui, a casa tem sido uma prioridade. Fui para um evento onde vi outras partes de Angola, via vídeo e acredito que aquelas áreas são boas para investidores de turismo. São áreas muito bonitas. África tem muita coisa. E vocês têm muita terra. Claro que têm tudo, nomeadamente recursos naturais, ouro e o tamanho da terra é uma das maiores de África em comparação com o número da população. Então, temos de tomar vantagem disso para dar de comer ao mundo. Está na hora de África dar algumas coisas ao mundo. É fácil viver aqui. Ontem comi funje, que é praticamente uma refeição que nós temos na Nigéria. A comida é a mesma. Todos os membros da delegação que vieram estavam confortáveis. O que ia dizer é que Angola tem muito potencial. Essa é a verdade.

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