“ESTAMOS MAIS PREOCUPADOS EM CURAR DO QUE NA PREVENÇÃO”
Como avalia os investimentos feitos no sector da saúde, onde se destacam a construção e reconstrução de unidades hospitalares?
Há muito que temos ouvido importantes figuras com experiências no sector tecer críticas a esta tendência hospitalocêntrica de gerir os nossos problemas no sector da saúde. Todos sabemos que prevenir é muito melhor do que curar, mas quando olhamos para a nossa estrutura de investimentos ou de gastos públicos no sector da saúde, vejo com alguma preocupação que estamos mais preocupados em curar do que em investir na prevenção. Como cidadão e utente, vejo com alguma tristeza que existem unidades sanitárias, equipamentos de saúde que não conseguem funcionar como deve ser por falta de pessoal, material ou até aspectos organizativos, mesmo sabendo que é alta a demanda por tais serviços. Tudo isto faz-me pensar que, talvez, a solução não passa apenas por construir hospitais. É preciso uma discussão mais abrangente e envolver várias sensibilidades e talentos, para construirmos uma visão correcta do problema e das soluções que se pretendem.
A redução das taxas de mortalidade infantil é dos principais desafios. Quer comentar?
Dentre os vários, e não são poucos, desafios que o país tem, a questão da mortalidade materna e infantil, a questão da desnutrição infantil e do número de crianças e jovens fora do sistema de ensino não deveriam deixar nenhum membro da classe política e governante dormir tranquilamente. Podemos estar a passar por um momento menos bom da nossa economia, podemos até ter sido um país que viveu uma guerra fractricida com profundas consequências até aos dias de hoje, mas nada justifica as actuais taxas de mortalidade materna e infantil, 46 anos depois da independência e 19 anos depois do fim do conflito aramado que opunha o governo de Angola e a UNITA.
As projecções macroeconómicas para 2022 previstas no OGE fixam o preço médio do barril de petróleo em 59 dólares, com uma produção média diária de 1 147 910 barris, uma taxa de inflação de 18,0% e uma taxa de crescimento de 2,4%. Essas projecções são exequíveis?
Tudo é possível, como é costume dizer-se, mas se tem prestado atenção aos projectos de crescimento económico, recorde-se dos últimos: quando foi que uma projecção feita pelo Executivo Angolano coincidiu com os dados alcançados no final do período? Claro que são apenas projecções mas, se reparar, a margem que difere o projectado do alcançado, em termos de crescimento económico, tem sido considerável. Dito isto, vamos esperar para ver o que vai ocorrer, mas desde já – e se podermos dizer algo a respeito – eu diria o seguinte: é importante fazerem-se projecções, mas o mais importante é garantir os esforços para que o projectado se cumprir. De que vale fazerem-se projecções e no final, chegar-se á conclusão de que não se fizeram os esforços necessários para que estas previsões se concretizassem?

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